Estreia a 14 de Junho de 2007 – Quadrienal de Praga, Republica Checa
Uma encomenda do Instituto das Artes para integrar a Exposição ARQUITECTURAS EM PALCO de João Mendes Ribeiro
Escrevendo ao som sobre o qual se escreve.
O destino até parece que às vezes existe.
Alguns dedos humanos parecem às vezes tocados por deuses.
Tudo parece às vezes irremediavelmente perfeito.
O belo é aqui, sem dúvida, a compensação.
Como uma imagem parada no tempo consigo ainda ver ao fundo da sala este tocador de tristezas reclinado sobre o seu instrumento.
Às primeiras notas tudo ficou suspenso. O ar que me envolvia, refeito em som, colou-se à pele, trespassou a carne, os ossos, invadindo por fim todos os órgãos do meu corpo.
Os sentidos deixaram de fazer sentido porque escassos e limitados para poderem absorver o inexplicável fenómeno.
Cada nota, respiração, pausa, suspensão, eram indizivelmente perturbadores.
Poderá a tristeza ser mais triste que no 1º Andamento desta obra ou a nostalgia mais nostálgica que no 3º Andamento? De certo o serão em muitas das suas composições passadas, presentes e futuras.
A Sesta, fragmento inseparável da escrita do autor, está longe de ficar adormecida à sombra de uma qualquer árvore. Essa escrita, aqui silenciosa, viverá não só na estante de um atento coleccionador mas sobretudo aberta nas mãos alheias de alguns privilegiados tocadores.
Joaquim Pavão é um homem irremediavelmente aprisionado à música donde já sem possibilidade de recorrer foi condenado a prisão perpétua.
Joaquim, prometemos-te que à hora da visita estaremos sempre lá para te ouvir.
Olga Roriz. 20 Dezembro 2007.